domingo, 28 de outubro de 2007

9

Sou o menino que se afastou dos pais e foi construir um castelo na areia.
Juntei tudo o que achava meu num barco.

Pus uma mascara e fui pirata em direcção ao novo.
No mar não havia nada mas vi muitas cores no mar.
De passagem roubei uma flor em terras estranhas e levei-a a viajar.
Houve amor no convés e quando o amanhã acordou,
Tudo o que sonhei estava em frente da ponta da caravela.
Tudo o que conquistei não foi para mim, foi para ela.

sábado, 27 de outubro de 2007

8

O Harém era um jardim privado e proibido.
No Harém, qualquer homem que ousasse saltar os muros do palácio e entrar via os seus sonhos sexuais realizados por mulheres que viviam completamente isoladas de qualquer contacto físico.
Só tinham frutos, legumes e objectos de forma fálica para seu consolo.
Elas pertencem ao sultão e esperam pela sua noite real.
Muitas delas nunca verão chegar a sua vez.
Estas belas odaliscas passavam o dia relaxadas em cima de almofadas.
Conversavam suavemente; proferiam palavras mágicas.
Olhares calmos, carnais, doces e furtivos viajam no espaço interior da casa.
Corpos dourados adornados de ouro fino e diamantes.
Com as suas belas curvas e os seus cabelos lisos;
Com os seus pés descalços e os seus seios descobertos;
Douradas de pernas cruzadas,
Beijando as uvas e fumando Ópio.
Belas Odaliscas.
Ainda o sultão não tinha delas desfrutado e já eram jovens gordas, com os dentes podres e as pernas tortas.

7

O sono é algo sagrado.
É lá onde os pensamentos desaparecem e deixam-nos sosinhos de alma fresca e transparente.

Bem quebrada num jardim de comodidade.
Um calmo sitio de aterrar e me enterrar.

6

É minha vontade aprofundar a minha dor.
Quero aprofundar a minha vontade de viver morto.
Longe de tudo o que vive.
Tudo o que vive é falso.
Toda a minha vida mandaram-me seguir em frente dizendo '' não te deixes ir abaixo ''.
Mas eu estou comigo e sozinho dêxo ás profundezas.

Sou livre de sentir a minha dor.
Eu sei o que quero.
Eu sei o que sinto.
Eu sou o que sinto.
Não sei o que espero.
Vou sondar os limites da minha rendição á vida.
Sentir esta rendição cada vez mais forte e pesada.
Vou até ao mais profundo lugar, onde ninguém me encontre.
Que nesse meu lugar encontre aquilo que desejo.
Que nesse meu lugar encontre o meu templo e que este me traga a calma solidão da morte lenta.
Vejo, que quando não há luz reina o breu.

Mas onde á luz há sempre sombras.
Então quem me ilude realmente.
A felicidade foram momentos falsos e passageiros de luz artificial

Mas a tristeza, essa é imortal.
E vai-me acompanhar por toda a minha vida e tudo me trará desilusão.
E só me resta um amigo.

E será nos seus braços que acabaram todas as dores e todas as lágrimas.
Um verdadeiro amigo.

Para sempre.
O fim.
A morte.

Então abraça-me, todo devagar.
Assim eu quebro lentamente.
Um dia eu vou quebrar.

Que neste meu lugar eu encontre a vontade e que ela me traga a musica.
E me lembre que por cima das nuvens o céu é azul.

Quero por tudo esquecer que o azul é uma ilusão e que em todo o universo quem reina é a escuridão.



5

Nunca estivemos tão á frente no tempo...
Tem sido um longo e pesado caminho...
Suavizado pelos nossos sonos e pelas nossas mortes e reencarnações...
Já nos esquecemos do nosso primeiro passo, terá sido ele com o pé direito ou com o pé esquerdo?

Nunca estivemos tão á frente no tempo...
Temos de caminhar o deserto á nossa frente...
Chamo pelos filhos do deserto, e eles vêem, mas ainda que pisem as novas dunas,
nenhum me acompanha nesta caça.

Filho do deserto, curioso e solitário...
Os deuses sorriem para ti...sarcasticamente....
Segue filho do deserto...

Em frente no espaço...
No pico do tempo...
Pode ser que daqui a um milhão de anos encontremos o teu cadáver seco e quebrado pela mais terrível sede........

4

Já me vim.
Agora piso uma terra nova.
Acabei de chegar, só tenho o descanso relaxado de quem pára a correria.
A fadiga do corpo, quando o corpo pára dá á alma um lugar no universo.

3

Posso ser a cobra.
Mas não posso acreditar que o amor está alem do ódio.
Posso ser o mel.
Mas não posso acreditar que o ódio está alem do amor.
Estamos aqui para a vida.
Por mais louco que possa ser
vagueamos pela dor e pelo prazer.

2

Quebrados são,
Todos os que estão cansados, longe de casa.
A volta é fritura, a chegada demorada.

Vocês querem sair.

Vocês não vêem nada.
Têm que por tudo voltar, chegar, àquele lugar.
O caminho é de fuga,o objectivo é quebrar.

1

Queimei a minha infância, e todas as fotos daquilo que nunca fui.
Porque nelas não vi nada meu...
Porque o que foi meu por ai foi-se perdendo.
Pois o que é meu não sou eu
E eu não sou tendo.
E tive e nunca fui tendo.
Hoje não tenho nada em mim daquilo que fui.

E o que é ter para um ser?
E Porquê ser de alguma maneira?
Porquê ser eu de uma maneira diferente?
Se não existe eu e somos todos iguais...
Todos corpos com as mesmas necessidades.
E comemos do mesmo prato.
E fora da nossa forma de cada um ser somos todos iguais.
E porquê haver algum ser que seja diferente e olhar para um céu diferente?
Se o céu é sempre o mesmo...

Somos iguais e estamos assim.
Dizem os demais.
Não há nada em ser diferente.
Senão um devaneio do consciente de um eu que julga deixar de ser mais um homem com fome na terra.

E porquê ser diferente daquilo que só uma vez fui e fui realmente.
Aquele bebé tirado do ventre e dado á vida.
E que por isso chora...
E por não querer ser sendo,
Chorando eu viveria.
Chorando por me terem levado a morte.

Mas agora sei que vai chegar o meu dia.
E no meu enterro sorrirei.
E quando em caveira desaparecerem os vestígios da carne que fui, sorrirei.

E sei que vocês choraram por ficar aqui existindo não sendo nada.
E eu já me fui.
Nunca fui existindo.
Nunca fui nada.

E agora sou nada sem nada que se me apegue.
Agora sou nada.
Sou puro...
Sou tudo...
E a verdadeira vida é a morte.

E porque sempre procurei em tudo o que conheço.
Para os que ainda procuram esperando encontrar algo.
Eu é que sei...
A verdadeira navegação é a morte.

Se fui mais que um estranho foi porque fui amigo ou amante
.