sábado, 27 de outubro de 2007

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Queimei a minha infância, e todas as fotos daquilo que nunca fui.
Porque nelas não vi nada meu...
Porque o que foi meu por ai foi-se perdendo.
Pois o que é meu não sou eu
E eu não sou tendo.
E tive e nunca fui tendo.
Hoje não tenho nada em mim daquilo que fui.

E o que é ter para um ser?
E Porquê ser de alguma maneira?
Porquê ser eu de uma maneira diferente?
Se não existe eu e somos todos iguais...
Todos corpos com as mesmas necessidades.
E comemos do mesmo prato.
E fora da nossa forma de cada um ser somos todos iguais.
E porquê haver algum ser que seja diferente e olhar para um céu diferente?
Se o céu é sempre o mesmo...

Somos iguais e estamos assim.
Dizem os demais.
Não há nada em ser diferente.
Senão um devaneio do consciente de um eu que julga deixar de ser mais um homem com fome na terra.

E porquê ser diferente daquilo que só uma vez fui e fui realmente.
Aquele bebé tirado do ventre e dado á vida.
E que por isso chora...
E por não querer ser sendo,
Chorando eu viveria.
Chorando por me terem levado a morte.

Mas agora sei que vai chegar o meu dia.
E no meu enterro sorrirei.
E quando em caveira desaparecerem os vestígios da carne que fui, sorrirei.

E sei que vocês choraram por ficar aqui existindo não sendo nada.
E eu já me fui.
Nunca fui existindo.
Nunca fui nada.

E agora sou nada sem nada que se me apegue.
Agora sou nada.
Sou puro...
Sou tudo...
E a verdadeira vida é a morte.

E porque sempre procurei em tudo o que conheço.
Para os que ainda procuram esperando encontrar algo.
Eu é que sei...
A verdadeira navegação é a morte.

Se fui mais que um estranho foi porque fui amigo ou amante
.

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